quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Tribuna do Norte | Boi vivo PeduBreu Carlos Bem e Boi Pintadinho celebram festa de Reis na Casa Vermelha

Tribuna do Norte | Boi vivo

O dia de Reis já foi um dos mais comemorados em Natal. Todo janeiro, dia seis, bois de papel machê, homens cobertos por fitas de cetim, barcos de crepom recheados de castanha e fubá compunham os cortejos marítimos e terrestres pela cidade. Com o passar do desejo político, essas manifestações permaneceram vivas apenas na memória de quem hoje tem, no mínimo, trinta anos de idade. “Antigamente a festa era marcada pela grande participação popular. Tínhamos o Boi de Reis, o Pastoril, a Lapinha e as comidas típicas tradicionais. Existem algumas comemorações isoladas, mas a intensidade já não é a mesma”, disse o historiador e presidente da Comissão de Folclore do Rio Grande do Norte, Severino Vicente.

esmo que não seja possível fazer ressurgir nos quatro cantos da cidade os cortejos populares, o natalense terá a oportunidade reviver parte do que já foi o Dia de Reis. O Ponto de Cultura Boi Vivo está promovendo o encontro entre o Boi Calemba Pintadinho, de São Gonçalo do Amarante e o Boi de Mestre Elpídio, concentrado em Parnamirim. Os integrantes do boi de Mestre Elpídio estarão à paisana, buscando recuperar com os colegas de São Gonçalo o desejo de entrar em cena mais uma vez. De acordo com o ativista cultural, Lenilton Lima depois da morte do Mestre Elpídio, no ano passado, o grupo perdeu a motivação para atuar. “Na verdade o que estamos fazendo é levantar a autoestima do grupo”, disse Lenilton.

Por nunca ter parado de brincar em mais de cem anos andanças, nem mesmo na época da ditadura, o Boi Pintadinho vem se modernizando e ao mesmo tempo conservando a disciplina e ensinamentos dos mestres. Hoje, jovens e antigos cantam e dançam graças a um trabalho comprometido, que tem a frente o Mestre Dedé Veríssimo e o Mateus Kleber Teixeira.

O encontro entre os bois e a população vai acontecer na praça central, da Vila de Ponta Negra às 16h. De lá, população e brincantes partirão em cortejo até o espaço cultural Casa Vermelha, que fica próximo ao cruzeiro da Vila. O Boi Calemba Pintadinho será recebido pela voz e o violão de Carlos Bem e pela levada do grupo PeduBreu. Segundo Lenilton, o objetivo é unir os diferentes estilos onde o velho e o novo possa criar uma leitura contemporânea que agrade a todas as gerações. A entrada na Casa Vermelha custará R$ 5,00.

bois

A festa de Reis é tradição cristã

O Dia de Reis é uma comemoração da tradição cristã, marcada pelo presente dos Reis Magos entregue a Jesus Cristo. Baltazar saiu da África, levando mirra, um presente ofertado aos profetas. A mirra é um arbusto originário desse país, onde é extraída uma resina para preparação de medicamentos.

O presente do rei Gaspar, que partiu da Índia, foi o incenso, como alusão à sua divindade. Os incensos são queimados há milhões de anos para aromatizar os ambientes, espantando insetos e energias negativas, além de representar a fé, a espiritualidade. Melchior ou Belchior partiu da Europa, levando ouro ao Messias, rei dos reis. O ouro simbolizava a nobreza e era oferecido apenas aos deuses.

Em homenagem aos Reis Magos, os católicos realizam a folia de reis, que se inicia em 24 de dezembro, véspera do nascimento de Jesus, indo até o dia 06 de janeiro, dia em que encontraram o menino. A folia de reis é de origem portuguesa e foi trazida para o Brasil por esses povos na época da colonização.

Enfeitados, mascarados e a morte do boi

O Boi Calemba é a versão potiguar do Bumba-meu-boi nordestino. Ele foi registrado por diversos folcloristas, como Cascudo e Mário de Andrade, no início do século passado. O Boi Calemba apresenta-se normalmente com dezessete figurantes, incluídos neste número os músicos do conjunto.

Os integrantes são classificados como Enfeitados ou Mascarados. O primeiro grupo é composto pelo Metre da brincadeira, os Galantes (seis a oito) e as Damas (dois garotos travestidos de mulher), responsáveis pelo lado sério do espetáculo, cantando velhas cantigas do século XIX, como as louvações, saudações, benditos e baianos.

Entre uma estrofe e outra, da mesma cantiga, dançam animados baiões, ao som da rabeca e, entre uma cantiga e outra, declamam loas e contracenam com os Mascarados. Decoradas com fitas coloridas e espelhos, as roupas dos galantes impressionam pelo efeito visual.

Os Mascarados (rosto pintado) encenam a parte cômica do espetáculo, eles são três: o Mateus, o Birico e a Catirina. O trio apresenta-se trajando roupas velhas e surradas, o rosto besuntado em tisna, evocando sua condição de vaqueiros-escravos da saga da pecuniária nordestina.

No Boi Calemba atual, está sendo esquecido o episódio da morte do boi, momento dramático de toda a brincadeira. O auto limita-se hoje, quase só aos cantos iniciais de louvação e aos baianos que antecedem a saída das diversas figuras (bichos e fantasmas) ou que acompanham, na sua apresentação, encerrando-se pelos cantos de despedida, entoados por todos.

Entre os bichos, destacam-se o Boi, o Bode, a Burrinha, o Gigante e o Jaraguá. A orquestrinha é composta, em geral, de rabeca, pandeiro e mais um instrumento de corda ou sanfona.

Serviço:
Comemoração do Dia de Santos Reis, com encontro de Bois e músicos na praça principal da Vila de Ponta Negra, quinta-feira, às 16h. A festa terá continuidade na Casa Vermelha (próximo ao cruzeiro da Vila). Entrada R$ 5,00.

Nenhum comentário: